SINO
DA PAZ
TODA HISTÓRIA
Para falar sobre o Sino da Paz é preciso retomar um pouco o
início da historia, pois na verdade esse trabalho “de Paz”
começa com uma Historia de Amor.
Em 1981, Evandro e Bárbara se conheceram no aterro do
Flamengo numa manifestação anti-nuclear, Conclave de Sol,
onde a Joan Baez iria cantar. O Amor caiu sobre os dois como
um “trovão”, causando bastante alvoroço, pois resolveram
morar imediatamente juntos e a união deles não alcançou a
aprovação por parte dos familiares. Assim seguiu a vida.
Alguns anos se passaram até que Seu Armando e Dona Djahy,
os pais de Bárbara, resolveram visitá-los no Alto da Boa Vista,
onde moravam.
Foi como uma “visita de médico”, rápida, mas suficiente para
mudar o rumo da vida dos dois, pois ganharam de presente
um livro chamado “A Balada de John e Yoko” – coletânea de
entrevistas do casal POP à Rolling Stone Press.
Ao ler o livro tiveram a idéia de adaptá-lo para o teatro e assim o fizeram. Era para ser um espetáculo normal, mas o
texto chegou ao Walmor Chagas pelas mãos de Tarcisio Ortiz, e eles questionaram: “O europeu, o americano, o asiático,
sabem o que é a guerra e por isso mesmo, por saberem o que é a guerra, sabem o valor e o sentido da paz... Mas e o
brasileiro? O que é a paz para ele?” Encontraram respostas no processo da violência na Ditadura, ou na Paz
dos hippies... Mas havia algo mais no coração de Evandro e Bárbara, que não se satisfazia com esse sentido dado à paz.
Evandro resolveu então procurar alguém que conheceu quando jovem e que mudou a sua vida. Evandro e Bárbara
venderam tudo o que tinham, da mobília às panelas, e foram para Salvador(BA) encontrar esse raro ser
na humanidade: Léo Toniollo, mais que psicanalista, mais que artista, um “ser Amoroso”.
Dessa vez também não foi diferente, Léo mudou todo o conceito da peça com o toque do seu coração. Quando lhe
perguntaram o que era a Paz para o brasileiro, ele nada respondeu, algo desviou a conversa. Ele só retornou ao
assunto no dia seguinte, quando foram visitar a sua oficina de tapeçaria nos Alagados – uma comunidade muito pobre
da periferia de Salvador. Foi lá que falou: “Ontem vocês me perguntaram: O que é a paz para o brasileiro? Agora posso
lhes responder... A guerra que o brasileiro enfrenta é a miséria, a pobreza, a falta de dignidade humana, a fome...
Uma guerra sem front definido. Vê se a vida nesse lugar dá dignidade humana a alguém...”. Evandro e Bárbara antes
de entrarem no trem, olharam aquele aglomerado de miseráveis palafitas, que exalava o cheiro do esgoto a céu aberto.
Era o retrato da guerra brasileira e suas vítimas.
Léo mudou mais, tirou a peça do teatro fechado para o teatro performático de rua. Começariam chamando a atenção
da mídia pela Paz, para ressaltar, expor essas feridas causadas pela violenta indiferença dos poderosos, não só no
nosso país, mas em todo o mundo, pois John era um performático filho da guerra, assim como Léo...
Evandro e Bárbara começaram então a ver a paz além dos bombardeios. Ver as cicatrizes dessa guerra surda
estampada no rosto, no olhar das crianças brasileiras em estado de pobreza e miséria.
E foi assim que Evandro Vieira, Bárbara Stella, Léo Toniollo e Yuriko Kamida em 1985, Salvador(BA), fundaram a
Embaixada da Paz.
Empenhada na missão de espalhar a mensagem da paz, a Embaixada da Paz realizou suas três primeiras ações com a determinação de levar o teatro fechado para as performances de rua.
A primeira ação foi escrever com 60kg de milho a palavra PAZ em frente ao Elevador Lacerda. Os sinos das igrejas do centro histórico de Salvador repicaram pela Paz e os pombos voando dos campanários atiraram-se sobre o milho avidamente, formando um poema efêmero com suas asas. Um coral de crianças dos Alagados e Plataforma cantou músicas natalinas e Imagine, de John Lennon.
A segunda ação foi a campanha de outdoor "Hoje começa a paz, se você quiser" inspirada na campanha de John e Yoko
"Hoje a guerra acabou, se você quiser", onde Salvador amanheceu no 1° dia de 1986, Ano Internacional da Paz, coberta por essa mensagem.
A terceira ação aconteceu no carnaval de Salvador, quando nasceu a gigante e histórica Bandeira da Paz, que se tornou a assinatura do grupo em suas intervenções. A bandeira de 21 metros de altura por 7 de largura foi colocada na lateral de um prédio na Praça Castro Alves, causando grande impacto na mídia nacional, chamando a atenção de todo o Brasil para a Paz e fazendo com que aquele carnaval ficasse conhecido como o Carnaval da Paz.